quarta-feira, 18 de maio de 2011

DELÍCIAS DA NOSSA TERRA

Bacuri: fruta amazônica em ascensão

Guaraná, açaí e cupuaçu já conquistaram o Brasil e outras partes do mundo. Mas ainda há frutas da Amazônia por descobrir – entre elas o bacuri. Uma das frutas mais populares da região, ela vem ganhando mercado, com sua polpa usada para fazer sorvetes, doces e sucos. 
 
O bacuri é pouco maior que uma laranja e contém uma polpa branca usada para fazer doces – até a rainha Elizabeth II já provou o sorvete da fruta, em visita ao Brasil em 1968 (foto: Embrapa Amazônia Oriental).
A crescente procura pelo bacuri já supera a capacidade de produção atual, essencialmente extrativa. Mas estudos mostram que essa situação pode ser modificada com a adoção do cultivo e do manejo de plantas originadas da regeneração natural da espécie. Isso geraria renda e emprego, e permitiria a recuperação parcial de extensas áreas desmatadas e abandonadas. 
Bacurizeiro nativo
Bacurizeiros nativos existentes na natureza são árvores frondosas que podem ter até 40 m de altura e 2 m de diâmetro (foto: Embrapa Amazônia Oriental).
O bacuri é uma das frutas mais populares da região amazônica. Essa fruta, pouco maior que uma laranja, contém polpa agridoce rica em potássio, fósforo e cálcio, que é consumida diretamente ou utilizada na produção de doces, sorvetes, sucos, geleias, licores e outras iguarias.
Sua casca também é aproveitada na culinária regional, e o óleo extraído de suas sementes é usado como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de cosméticos.
O bacurizeiro (Platonia insignis) pode atingir mais de 30 m de altura, com tronco de até 2 m de diâmetro nos indivíduos mais desenvolvidos. Sua madeira, considerada nobre, também tem variadas aplicações. Essa árvore ocorre naturalmente desde a ilha de Marajó, na foz do rio Amazonas, até o Piauí, seguindo a costa do Pará e do Maranhão.
O bacurizeiro é uma das poucas espécies arbóreas da Amazônia que se reproduzem de modo tanto sexuado (por meio de sementes) quanto assexuado (por brotações oriundas de raízes).
O caboclo amazônico diz que o “bacurizeiro nasce até dentro de casa”
Em áreas de ocorrência natural, com vegetação aberta, a densidade de indivíduos em início de regeneração pode chegar a 40 mil por hectare (1 ha equivale a uma área de 100 m x 100 m), por causa das brotações. Por esse motivo, o caboclo amazônico diz que o “bacurizeiro nasce até dentro de casa”.
A produção atual de polpa de bacuri tem origem basicamente na coleta dos frutos de árvores oriundas de regeneração natural, que escaparam da expansão de povoados, do avanço da agricultura e da pecuária e da extração madeireira no litoral do Pará e do Maranhão nos últimos quatro séculos.
No passado, o bacurizeiro foi mais importante como espécie madeireira que como planta frutífera. Sua madeira resistente e de coloração bege-amarelada era muito utilizada na construção de embarcações e de casas, o que ainda é observado em muitas áreas de ocorrência natural.
Flores de bacurizeiro
As flores do bacurizeiro variam do branco ao vermelho e fazem com que a árvore, na época da floração, apresente um belo visual (foto: Embrapa Amazônia Oriental).
 

Do extrativismo ao manejo

O mercado de frutas amazônicas tinha, até recentemente, consumo local e restrito ao período da safra. Porém, a crescente exposição da região nos meios de comunicação, no país e no exterior – sobretudo após o assassinato do ambientalista Chico Mendes (1944-1988) – chamou a atenção para esses produtos. 
Uma das "comidas do mato" de Macunaíma, prepara-se para seguir o caminho de castanha-do-brasil, guaraná, açaí, cupuaçu e pupunha
O aumento da procura pela polpa de bacuri elevou seu valor (o preço por quilo passou de R$ 10, em 2005, para até R$ 20 atualmente) e indicou que a produção extrativa não tem condições de atender sequer o mercado local.
Essa maior pressão de demanda teve reflexos nas áreas de ocorrência, induzindo o manejo dos rebrotamentos naturais e o estabelecimento de pomares por agricultores do Pará, em especial da colônia nipo-brasileira no estado.
O bacuri, que era uma das 'comidas do mato' de Macunaíma, o 'herói sem nenhum caráter' do romance modernista (1928) de Mário de Andrade (1893-1945), prepara-se para seguir o caminho de castanha-do-brasil, guaraná, açaí, cupuaçu e pupunha, ganhando dimensão nacional e internacional.

Alfredo Homma,
José Edmar Urano de Carvalho
e Antônio José Elias Amorim de Menezes

Embrapa Amazônia Oriental,
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

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