Nem tão pura assim
Pesquisadora da Fiocruz encontra bactéria causadora de graves infecções em garrafas e galões de água mineral. A falta de limpeza adequada dos recipientes pode ser a causa da contaminação.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 03/05/2011 | Atualizado em 03/05/2011
Os galões de 20 litros retornáveis são os mais contaminados, devido à falta de limpeza antes do preenchimento com água. (foto: Sadler/ CC BY-NC 2.0)
A água contaminada é uma das principais causas de doença em países menos desenvolvidos. Por isso, todo cuidado é pouco quando se trata da ingestão desse líquido. Nem mesmo a água mineral está livre de perigo.
Uma pesquisa do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) descobriu um alto índice de contaminação pela bactéria Pseudomonas aeruginosa em galões e garrafas de água vendidos no Brasil.
A P. aeruginosa, vulgarmente conhecida como bactéria de nadador, causa infecções urinárias, sanguíneas e respiratórias e pode levar à morte, principalmente pessoas com imunidade baixa. Atualmente, essa bactéria é a terceira maior responsável por infecções hospitalares no Brasil.
Entre os galões, 40% estavam contaminados com a bactéria contra apenas 2% das amostras das garrafas
A pesquisa analisou 100 galões retornáveis de 20 litros, 50 garrafas de 1,5 litro e 50 de 500 ml de água mineral. Entre os galões, 40% estavam contaminados com a bactéria contra apenas 2% das amostras das garrafas.
A nutricionista responsável pelo estudo, Samara Custódio Bernardo, explica que essa discrepância se deve ao fato de os galões serem mal higienizados antes de receberem a água mineral nas distribuidoras e fábricas.
Segundo a pesquisadora, as bactérias P. aeruginosa têm alta capacidade de se unirem umas às outras e formarem uma espécie de lodo, chamado biofilme. “Essa película protege as bactérias e as ajuda a crescer e aderir à superfície dos galões, quando estes não são limpos”, explica.
Se o galão não é higienizado corretamente antes de receber a água, o biofilme permanece e contamina a nova água. Normalmente, essa película não é visível a olho nu; somente em casos graves de contaminação é possível enxergá-la.
Presença indesejável
A pesquisadora explica que a presença da P. Aeruginosa na água é comum, pois esse é o seu meio natural. O problema é que as amostras analisadas apresentaram de 3 a 48 bactérias por mililitro, quantidade acima do limite considerado aceitável pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de duas bactérias por mililitro.
“Quando você compra água mineral, não deveria encontrar esse tipo de microrganismo, pois os galões e garrafas passam por uma série de processos de desinfecção”, comenta Bernardo.
Apesar da descoberta desagradável, a nutricionista verificou que nenhuma das bactérias encontradas era resistente a antibiótico. “Essa é uma boa notícia, pois indica que os microrganismos que isolamos vieram do ambiente natural e não são os mesmos encontrados em ambientes hospitalares”, afirma.
Descuido também em casa
“Em muitas casas e estabelecimentos comerciais, as pessoas reenchem o galão com água do filtro sem fazer a higienização correta”
A pesquisadora alerta que, além do descuido das fábricas, a falta de limpeza também é comum entre os consumidores. “Em muitas casas e estabelecimentos comerciais, as pessoas reenchem o galão com água do filtro sem fazer a higienização correta.”
Para combater a bactéria, Bernardo recomenda que sempre se passe álcool 70 na boca do galão de água mineral quando aberto e também no suporte que irá recebê-lo. Esse mesmo procedimento é indicado para as garrafas que armazenam água filtrada em casa, que não devem ser reutilizadas sem a higienização.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
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