Terras secas
A desertificação ameaça um sexto da população brasileira. Dentre suas principais consequências estão a redução da produção agrícola e da biodiversidade, a migração e a pobreza das populações afetadas. O tema é destaque da CH 280.
Dedo humano
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, ao menos em 100 países, 1 bilhão de pessoas seja ameaçado pelo processo de degradação de terras secas. E 24 milhões delas já sofrem os efeitos do fenômeno – a maior parte na África, continente mais afetado.
No Brasil, moradores de parte do 1,1 milhão de quilômetros quadrados suscetíveis à desertificação já veem todos os dias a imagem do solo seco e rachado sem potencial produtivo. A seriedade do problema levou a ONU a declarar esta a Década para os Desertos e a Luta contra a Desertificação.
Engana-se, no entanto, quem pensa que o cenário da desertificação se parece com desertos como o Saara africano ou o Atacama, no Chile. “Esses são biomas equilibrados, resultado de processos naturais que duraram milhares de anos”, explica Souza. “Terras desertificadas, por outro lado, são resultado principalmente da ação humana, em um espaço de tempo muito mais curto, insuficiente para o ambiente se reequilibrar.”
As atividades humanas que podem deflagrar, causar ou acentuar o processo de desertificação são muitas – vão desde o desmatamento, passando pelo pastejo excessivo até formas de irrigação danosas.
Terras desertificadas são resultado principalmente da ação humana, em um espaço de tempo muito mais curto
O fenômeno começou a ser percebido no Brasil na década de 1970, quando foram lançados os primeiros estudos sobre o problema – antes apontado como exclusivamente africano.
Quarenta anos depois, poderia se pensar que já há uma vasta base de dados acerca das regiões mais desertificadas ou que têm maior potencial de desertificação no país – além de inúmeros programas governamentais para dar conta do problema.
A realidade, no entanto, não é bem essa. Há, de fato, cada vez mais pesquisas em universidades nordestinas que buscam analisar melhor o processo. Mas, por necessidade, esses estudos são muito locais e usam parâmetros específicos para designar uma região suscetível à desertificação ou analisar aquelas onde o processo já ocorre – os chamados índices de desertificação.
A pesquisa de Souza, por exemplo, é focada na região do Cariri paraibano – e nem por isso deixa de ser um trabalho hercúleo, com coletas de solo, pesquisas de campo e análises em laboratório. O fato, porém, é que é difícil ter um panorama mais abrangente de como a desertificação tem atingido os estados brasileiros nas últimas décadas.
Isabela FragaCiência Hoje/RJ
Texto originalmente publicado na CH 280 (abril de 2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário