segunda-feira, 6 de junho de 2011

MEIO AMBIENTE PEDE SOCORRO

Mapa da destruição

Estudo mostra queda no desmatamento da mata atlântica, mas a derrubada de florestas ainda ocorre lentamente e preocupa os pesquisadores. O trabalho pode servir como ferramenta de fiscalização, caso o novo Código Florestal entre em vigor.

Mapa da destruição
A mata atlântica é um dos principais biomas do Brasil. Se não fosse o desmatamento, a floresta cobriria cerca de 15% do país. (imagens: Inpe e Ascom MMA; montagem: Sofia Moutinho)
A sexta edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, feito pela organização não governamental SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revela que a taxa de desmatamento nesse bioma caiu 50% entre os períodos de 2005 a 2008 e 2008 a 2010.
Ainda assim, a situação da mata atlântica é preocupante. Segundo o levantamento, feito por sensoriamento remoto, restam apenas cerca de 8% da cobertura original da floresta em todo o país, totalizando 1.017.790 hectares. A área desmatada entre 2008 e o ano passado foi de 31.195 hectares, o equivalente a 31 mil campos de futebol.
A mata atlântica já é considerada o segundo conjunto de ecossistemas mais ameaçado de extinção do mundo, perdendo apenas para as florestas da Ilha de Madagascar, na África.
Atlas da mata atlântica
O mapa mostra a área de mata atlântica perdida até hoje. Originalmente esse tipo de floresta cobria 131.546.000 hectares do território nacional; hoje restam apenas 1.017.790 hectares. (fonte: Inpe)
Segundo o coordenador técnico do estudo, Flávio Jorge Ponzoni, do Inpe, a área devastada pode ser ainda maior, pois não é possível detectar os desmatamentos de até 13 hectares nas imagens geradas por satélites usadas nos estudos.
“A notícia da queda do desmatamento pode parecer extremamente boa, mas a mata atlântica é caracterizada atualmente por pequenos desmatamentos que comem a floresta lentamente, em um efeito formiguinha”, diz Ponzoni, que acompanha o estudo desde a primeira edição, em 1991. “A velocidade do desmatamento é menor, mas o impacto continua.”
O estudo analisou 98% do bioma, o que inclui 16 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. 

Campeões do desmatamento

A atual edição do Atlas mostra que Minas Gerais e Bahia foram os estados que mais derrubaram árvores, 12.467 e 7.725 hectares, respectivamente. Em seguida, aparecem Santa Catarina e Paraná, com 3.701 e 3.248 hectares cada um. Juntos, esses dois estados da região Sul respondem por 42% de todo o desmatamento registrado na mata atlântica desde o início do estudo, há 25 anos.
Minas Gerais e Bahia foram os estados que mais derrubaram árvores
Minas já lidera a lista de maiores desmatadores pela segunda vez consecutiva e hoje restam apenas 10% de sua cobertura original de mata atlântica. Para Ponzoni, isso se deve a um erro de interpretação da Lei da Mata Atlântica, que trata da utilização e da proteção do bioma pelos proprietários de terra da região.
“Como a vegetação mineira é muito variada, as pessoas olham para a floresta e não a identificam como mata atlântica; elas pensam que a vegetação que veem ao seu redor não faz parte do bioma protegido por lei e que, portanto, podem desmatar sem problemas”, diz o pesquisador.
Tanto em Minas quanto na Bahia a devastação foi concentrada em áreas limítrofes entre a mata atlântica e as zonas de cerrado e caatinga. Segundo Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, os principais motores desse desmatamento são as plantações de eucalipto e as usinas de carvão vegetal.
Usinas de carvão na mata atlântica
As usinas de carvão vegetal e as plantações de eucalipto são as principais causas do desmatamento em Minas Gerias e Bahia, estados que têm hoje apenas 10% e 9% da sua cobertura original de mata atlântica. (foto: Ascom MMA)

Veio a calhar

A divulgação dos resultados do Atlas foi feita agora em razão do Dia da Mata Atlântica, comemorado em 27 de maio. No entanto, o estudo surge em um momento ainda mais propício, devido à aprovação, na Câmara dos Deputados, do novo Código Florestal, que legaliza criações de gado e plantações já estabelecidas em áreas de preservação ambiental (APPs).
Flávio Ponzoni destaca que os dados do Atlas podem ser usados como ferramenta de fiscalização de eventuais desmatamentos que possam ser incitados pela aprovação do código.
Os dados do Atlas podem ser usados como ferramenta de fiscalização de eventuais desmatamentos incitados pela aprovação do código
“Temos mapas precisos dos remanescentes da mata atlântica e com eles o poder público pode ver onde ocorre o desmatamento e verificar se as áreas desmatadas são realmente ocupações consolidadas ou intervenções recentes.”
O pesquisador também lembra que a Lei da Mata Atlântica é soberana e que o Código Florestal não a invalida. “Mesmo que o código permita o desmatamento em determinada área para agricultura, essa medida não vai poder ser tomada se for contra a mata atlântica”, afirma.
Segundo ele, se o novo código entrar em vigor, o maior impacto sobre o bioma será nas APPs já desmatadas e que não precisarão ser reconstituídas nos casos em que o terreno tiver menos de quatro módulos fiscais (de 20 a 400 hectares, variando em cada município).
De acordo com levantamento feito pelo Ministério do Meio Ambiente na região serrana do Rio de Janeiro, 90% dos deslizamentos de terra ocorridos no início do ano se deram em APPs que tiveram a vegetação, de mata atlântica, irregularmente desmatada.

Sofia Moutinho

Ciência Hoje On-line
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário